“SAF, sem SAFadeza!” Por Rafael de Castro Ladewig

Coluna DESTAQUE Fluminense Futebol Opinião

SAF, sem SAFadeza!

A transparência e a participação dos sócios são pilares fundamentais para a gestão de qualquer clube que preze por sua identidade e tradição. No caso do Fluminense Football Club, “O pai da História do Futebol Brasileiro”, a discussão sobre a possibilidade de transformação em SAF sem um debate amplo com os sócios proprietários e demais instâncias do clube seria uma afronta ao princípio básico da gestão democrática e participativa.
O presidente Mário Bittencourt, ao assumir a administração do clube, estabeleceu um prazo para o saneamento financeiro. Em junho de 2021, afirmou publicamente que (link: “O Fluminense se resolve financeiramente em nove anos”). Posteriormente, com avanço da gestão, revisou essa previsão, reduzindo significativamente o tempo necessário para atingir a estabilidade financeira. Chegamos então a dezembro de 2024 com a declaração de que (link: “Nossa dívida está equacionada”, repete Mário, afirmando que não deve a nenhum clube – Fluminense: Últimas notícias, vídeos, onde assistir e próximos jogos”).
Diante desse cenário, algumas análises primárias são inevitáveis: se o clube realmente atingiu tal estabilidade, por que a necessidade de uma SAF nos moldes de cessão do controle? Contratar um estudo que define a vida da instituição centenária é um ato presidencialista ou deveria desde então já haver um “plebiscito” ou minimamente uma decisão conjunta aos conselheiros? Publicamente a narrativa era de um investidor sem o controle majoritário do clube. Se isso mudou, quem decidiu avançar em modelo onde cedemos o controle? Se houve um avanço tão significativo na capacidade de geração de receita, se tivemos evolução negocial de venda, vide André e Kauã Elias, por que a ausência de uma discussão clara e estruturada sobre novos modelos de crescimento, que não SAF? Se temos uma receita extraordinária, Mundial de Clubes, onde é completamente factível que falemos em U$ 27,71MI (até as oitavas) e U$ 40.835MI (até as quartas), mas também nos possibilita sonhar com cifras ainda maiores, por que aceitaria 500MI, já tendo “garantia” só neste torneio de uma receita não recorrente de R$ 159.000.000,00 (oitavas) ou R$ 235.000.000,00 (quartas)? Se temos fontes de receitas correntes, como sócio futebol, licenciamentos, contratos de TV, entre outros, e nossa última referência de balanço/orçamento (Orçamento do Fluminense prevê R$ 115 milhões em vendas e R$ 485 milhões de receita líquida | fluminense | ge); apresentava esse montante em R$ 365.000.000 (excluindo venda de atletas), por que entregaríamos 60% do futebol por 500MI? Se temos um Riquelme* (R$ 100Mi), Matheus Reis* (50Mi), Isaque* (50Mi), Wallace Davi* (30Mi), Arias (R$ 16,0), John Kennedy (R$ 35,0), Martinelli (R$ 56.7), Bernal (R$9.5), Hércules (R$ 37,8), Lavega (R$ 17,6), Lezcano (R$ 25,2), Kelwin* (10Mi), Enzo* (5Mi), entre muitos outros, mas apenas nesses o mercado nos estima R$ 442.800.000,00 e ainda assim consideramos que em qualquer feirão ou perdas com percentuais de passe/comissões arrecademos apenas 50% deste ativos, ainda assim estamos falado em R$ 221.400.000, por entregaríamos 60% do futebol por 500MI? (*) Valores sem referências formais.
Obviamente a célere e rasa análise anterior não reflete toda sabedoria dos vultosos estudos realizados pelos especialistas da consultoria contratada, mas exatamente aí que mora a questão. Nenhum “ultra Dr.” em qualquer matéria irá mensurar o nosso amor pelo FFC e certamente teremos paixões nas nossas análises, mas não por isso devemos ser ignorados; não por isso devemos ignorar a “conta de padaria” feita no parágrafo anterior, onde facilmente chegamos a R$ 821.400.000, apenas com Mundial de clubes + Receitas correntes (base 2024 sem vendas de atletas) + Saldão de poucos atletas novos/vendáveis pelo FFC, com aplicação de 50% do valor de “mercado”. Como pode o FFC valer apenas aquilo que ele já tem mãos como geração de receita imediata?
Ah, mas tem a dívida, ah mas o MB pode ou não ser o CEO, ah mas o valor não é compatível, e blá, blá, blá, que vem por trás das análises do especialistas. No entanto, não esqueçamos que o FFC encontra-se no Regime Centralizado e “saneado”, conforme nosso Presidente. Portanto, se para qualquer negócio fala-se em tempo de retorno, o FFC avaliado em 800MI é uma verdadeira pepita de ouro!
O Fluminense conquistou títulos expressivos, como a Libertadores e a Recopa, garantindo uma posição de destaque no cenário internacional e elevando seu potencial de receita. O clube também dobrou sua capacidade de arrecadação, consolidando-se como um protagonista no futebol sul-americano. No entanto, avançamos o primeiro trimestre sem sequer um orçamento aprovado, um reflexo preocupante da falta de planejamento e de uma gestão transparente.
A discussão sobre a SAF deve ser precedida por um amplo debate, com transparência e compromisso com os interesses do clube a longo prazo. Se a dívida está equacionada, então o foco agora deve ser na ampliação das receitas e na otimização dos custos, garantindo que o Fluminense se mantenha competitivo e sustentável. Existem alternativas que precisam ser exploradas antes de qualquer decisão radical: a capitalização via parcerias; a atração de investidores com projeto de exploração específico atrelado a maturação e revenda no mercado europeu dos moleques de Xerém; a reformulação do conceito do Estádio das Laranjeiras, para torná-lo na maior casa de espetáculos da Zona Sul do RJ, vide potencialidade criada pelo Palmeiras (Palmeiras terá aumento de receita, e aniversário do Allianz Parque pode render R$ 60 milhões em 2025 | palmeiras | ge) e por quê não atraindo o Governo do Estado para transformação da Pinheiro Machado em um grande Boulevard, vide Praça Mauá e o recente projeto para o Sambódromo; a ampliação das parcerias públicas/privadas; um modelo de compliance robusto para atrair investidores sérios e comprometidos com a história do clube…
A torcida tricolor merece mais do que especulações e acordos a portas fechadas. Se o presidente Mário Bittencourt alcançou um patamar de relevância histórica na gestão do clube, e terá minha eterna gratidão, é fundamental que preserve essa posição, garantindo que qualquer decisão estratégica seja tomada com responsabilidade e transparência. Afinal, um clube não se faz apenas de títulos, mas também de identidade, história e respeito àqueles que o mantêm vivo.

Rafael de Castro Ladewig de Araújo.
Meu sangue é grená com glóbulos verdes e brancos.
“Te levarei no peito desde o berço…” até o reencontro!

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