FLUMINENSE 2025: SAF SEM MÁRIO (por Zezé Giesta Aiub de Lacerda) – Coluna Antonio Gonzalez

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FLUMINENSE 2025: SAF SEM MÁRIO (por Zezé Giesta Aiub de Lacerda)

O Fluminense acaba de se salvar de um vexame histórico depois de 6 meses de muita angústia e sofrimento.

Respiramos aliviados. Choramos. Mais uma vez nos emocionamos.

A torcida tricolor, a verdadeira torcida tricolor, pode bater no peito porque, se há um herói nesta fuga do rebaixamento, este herói são os 40, 50 e 60 mil anônimos tricolores que empurraram um elenco mal montado e em visível declínio físico e técnico para a permanência na Primeira Divisão.

O pesadelo de 2024 chega ao fim e devemos celebrar, claro. Mas para que ele não volte a nos assombrar em 2025 é preciso agir agora. E cobrar, denunciar, expor.

A prioridade do Fluminense a partir de HOJE só pode ser uma: instituir uma SAF de verdade, não uma de mentirinha que aponte Mário Bittencourt como CEO.

O projeto de Mário Bittencourt é esse, conforme apontado ontem por alguns jornalistas. O presidente do clube está, portanto, colocando seu interesse pessoal acima do interesse do Fluminense Football Club e isso precisa ser combatido fortemente.

Desde ontem parte das mídias sociais dedicadas ao Fluminense colocou o debate: Mano fica ou sai?

Esse é o debate errado. É a cortina de fumaça perfeita. A pergunta certa hoje é: Mário Bittencourt fica ou sai?

E a resposta é: Mário Bittencourt tem de sair se o que foi denunciado se revelar verdadeiro. Porque ele estará usando o clube que comanda para um projeto pessoal via SAF. Se o presidente do clube, um advogado de direito esportivo, acredita que dispõe de qualificação para se tornar CEO de grandes corporações, procure imediatamente um head hunter e apresente seu currículo ao mercado. Bem longe do Fluminense.

O Botafogo apontou o caminho. Uma SAF de verdade, profissionalizada, estruturada. Os resultados não demoraram a aparecer. A capacidade de investimento foi apenas um dos aspectos. O mérito maior do Botafogo foi montar um departamento de scout sem paralelo num futebol onde prevalecem as tratativas obscuras e os empresários amigos. No Botafogo, o que valeu foram critérios objetivos e transparentes: jogadores com porte físico, sem histórico de contusões, quase sempre jovens e de boa técnica. A capacidade analítica e de seleção, que sintetiza a competência do trabalho, colocou sem custos no clube 5 de 11 titulares. Na hora de alocar recursos, o Botafogo foi cirúrgico e trouxe um dos maiores talentos revelados em Xerém e um jovem campeão do mundo com a Seleção Argentina.

Vale lembrar a pior montagem de elenco da História do Fluminense, seja pela escolha de nomes, seja pelos valores envolvidos. Apenas para lembra, trouxemos no início do ano nomes como David Terans, Antônio Carlos, Jan Lucumí, Douglas Costa, Renato Augusto, Gabriel Pires e Felipe Alves. Na última janela vieram Ignácio, Bernal, Fuentes e Serna, entre outros. Ao menos os três últimos tiveram um papel importante na reta final do campeonato. No total, o Fluminense investiu muito mal mais de 70 milhões de reais em contratações ou empréstimos em 2024.

Ficará também como símbolo da má gestão e do descompromisso com as contas do clube a liberação de Agner, atleta de 19 anos com histórico de alta performance na base, para o Palmeiras. Foi emprestado com preço do passe fixado – 1 milhão de dólares por 50% dos direitos. Uma das explicações foi de que a proposta financeira teria agradado ao “estafe” do jogador. Agner é apenas mais um dos que jamais chegou a vestir a camisa do clube nos “profissionais”. Junta-se, apenas no ano de 2024, a Jefté e Kayky Almeida, ambos com histórico de convocações para Seleções Brasileiras Sub-17 e Sub 20. Ambos também negociados por 1 milhão de moedas. Kayky Almeida foi parar no Watford, destino de outros tantos atletas da base do clube. (Por que a preferência pelo Watford?) São negociações que não encontram qualquer justificativa economicamente racional.

Mário nunca trabalhou de verdade por uma SAF. Ela era encarada, quando muito, como uma alternativa de perpetuação no poder. Se não fosse possível como CEO do clube, a SAF era a alternativa. Sempre como CEO. Sem isso não haveria SAF. Todos sabiam disso e agora foi tornado público por um jornalista de credibilidade. O interesse do clube nunca esteve em primeiro lugar.

O cenário ainda pode ficar mais desolador se for instaurada uma SAF de mentirinha com Mário Bittencourt presidente e os amigos empresários como “investidores” ou “quotistas”. Se ocorrer, eles continuarão emplacando seus Lucumís, Terans e Victor Hugos. E os atletas mais promissores da base continuarão a ser negociados por 1 milhão de moedas.

Estamos salvos e aliviados. Mas é importante que isso não apague todo o desmando administrativo, toda a incapacidade de gestão. Há uma falta de transparência decisória no futebol (não se entra aqui em outras áreas onde ela se reflete num balanço de ficção) que coloca ainda mais em evidência a necessidade urgente da SAF. É preciso apenas que haja algum nível de mobilização para evitar que Mário Bittencourt consiga se autoproclamar CEO de uma SAF (não é difícil “criar” a SAF para enganar os ingênuos).

A SAF é importante e inadiável. Não se trata mais de uma questão de escolha. É questão de sobrevivência. Uma SAF de verdade, sempre vale pontuar. Temos um Mundial em 2025 e queremos disputá-lo com um mínimo de capacidade de competir. Não queremos repetir a final do Mundial de 2023 em que fomos goleados e depois batemos no peito para afirmar que não abrimos mão de nosso “estilo”. Não era nosso. Era do Diniz. A soberba e a arrogância impedem a criação de uma SAF profissionalizada, com governança, transparente, bem gerida. Uma SAF de verdade coloca ponto final nas vendas a preços vis de nossos maiores talentos e a contratação de jogadores pré-aposentados ou sem qualquer qualificação técnica. Uma SAF também nos permite elevar o sarrafo e sonhar com a contratação de atletas de alto nível a exemplo do que se permitem hoje clubes como Botafogo e Atlético-MG, não por acaso finalistas da última Libertadores.

O ano de 2025 pode não estar perdido se a mesma torcida que salvou o clube exigir uma SAF sem Mário. A hora é de ainda mais união em torno de um projeto sem personalismos, sem arrogância ou soberba. O Fluminense nunca precisou tanto de nós.

Zezé Giesta Aiub de Lacerda representa a verdadeira alma das arquibancadas tricolores e pertence como membro de inspiração à Frente Ampla Tricolor

O texto é de total responsabilidade do autor.

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