“OS 18 TREINADORES QUE MARCARAM A HISTÓRIA DO FLUMINENSE” – 11) Tim: o maior estrategista do futebol brasileiro

Coluna Destaques Fluminense História

Tim: o maior estrategista do futebol brasileiro.

“OS 18 TREINADORES QUE MARCARAM A HISTÓRIA DO FLUMINENSE”

A Frente Ampla Tricolor cumprindo mais uma etapa da série sobre os grandes treinadores que marcaram época nas Laranjeiras, apresenta trechos de reportagens históricas sobre Elba de Pádua Lima, o Tim, um dos poucos que conseguiram a proeza de ser campeão pelo Fluminense como jogador e como treinador.

Na época em que jogou pelo clube “conquistou o bicampeonato carioca em 1937 e 1938, além do Torneio Municipal de 1938, mesmo ano em que também defendeu o escrete nacional no mundial da França.

Em 1940 e 1941 faturou mais um bicampeonato carioca pelo Fluminense. Em seguida disputou o Sul-Americano do Uruguai, quando marcou seu único gol pela Seleção Brasileira, o primeiro na goleada sobre o Equador por 5×1″.

“Como técnico Tim de fato fez jus ao apelido de El Peón: foi o maior estrategista do futebol brasileiro. Para ser entendido, ele expunha a sua tática mostrando como um time de botões se posicionava. E era mais facilmente aceito pelo grupo.

Outra de suas características: tratar o atleta com respeito, sem alterar a voz, e assim se impor como autoridade democrática”.

“Tim às vezes era irônico. Um dia, fazendo peneira de candidatos, veio até ele um rapaz dizendo, para agradá-lo: “Não bebo, não fumo nem farreio”. E o rifainense: “Pois você aqui vai aprender a fazer tudo isso”.

Outra história vem do escritor Luiz Eduardo Lages: após ouvir alguém falar que no estádio havia alambrado e vestiários, Tim perguntou: “E grama, tem?”. Quando o outro confirmou, ele coseu com alfinete: “É só o que precisamos para jogar, o resto não interessa””.

“”A temporada carioca-1964 teve 13 clubes disputando o título, em turno e returno. Para repetir o que não fazia desde 1959, o Fluminense contratou o seu antigo ex-atleta Elba de Pádua Lima, o Tim, para treinador. E faturou.

O comandante da equipe tricolor encontrou o grupo com problemas disciplinares e formas de concentração e de treinamento que não lhe agradavam. E mais dois outros “perrepes”: o goleiro Castilho era dado como acabado, não jogava há quatro meses, e o meia Joaquinzinho insistia em atuar adiantado. Tim chamou-os para conversar e resolveu os casos. O primeiro foi exemplar em sua recuperação, atuando em 25 dos 26 jogos da campanha, e o segundo fez o time crescer, produzindo uma jogada fatal, lançamentos para Amoroso, que marcou 19 dos 48 gols tricolores na luta pelo título. Valeram a pena as rugas que levaram Tim até afastar do time o seu armador, por indisciplina tática.

Durante as nove primeiras partida, Joaquinzinho e Evaldo lançavam os ponteiros Amoroso e Mateus, que fechavam para o gol. Quando a tática ficou manjada e Evaldo sofreu uma lesão, entrou na formação o centroavante Ubiraci, com a missão de cair pela esquerda, ficando a função de fustigar os zagueiros só com Amoroso. Quando este disputava bolas na área, abria-se um corredor para o lateral-direito Carlos Alberto atacar, coberto por Oldair.

Depois de perder Evaldo – já não contava, também, com o zagueiro Dari (chegou à Seleção Brasileira), que passou três meses fazendo tratamento contra uma úlcera duodenal -, Tim perdeu Ubiraci, por distensão muscular. Terrível, pois, em cima das características do rapaz vinha jogando o seu ataque. Sem ninguém para cumprir a sua tarefa, Tim voltou a mudar o seu esquema tático. Lançou Jorginho (cria das bases) pela ponta-direita e trocou Mateus, por Gílson Nunes, na esquerda. Pelo novo modelo, os ponteiros jogavam abertos e Amoroso forçava o jogo em cima do quarto-zagueiro, para tirá-lo da área e abrir brechas para Oldair, que vinha de trás. Nesse esquema, Denilson jogava plantado e Joaquinzinho subia, um pouco, para desafogar o meio-de-campo.

A configuração tática levou o Fluminense à decisão da temporada RJ-1964, contra o Bangu, clube que Tim dirigira, por 14 meses, antes de chegar às Laranjeiras e que jogara o mais bonito futebol do Campeonato Carioca-1963, só não chegando ao título devido bobeadas na reta final.

Para o primeiro jogo das finais, Tim mandou o zagueiro Valdez marcar Parada, só dentro do seu setor, jamais o perseguindo, porque este lançava bem a bola no espaço vazio. Se Parada recuasse, Oldair iria no combate. Se subisse, além de Valdez, teria Procópio e Altair administrado a esquerda defensiva. Para Carlos Alberto, ficava a missão de aproveitar o corredor que sobrasse para avençar pela direita. Além de Denílson plantado, vigiando Ocimar, Joaquinzinho fazia o peão. Jorginho recuava, um pouco, indo para o meio-de-campo, enquanto Amoroso se apregava na área, jamais buscando jogo. E Gílson Nunes se virava para forçar o jogo em cima de Fidélis, um lateral quase imbatível. Deu certo e o Flu venceu, por 1 x 0, com gol de Amoroso cobrando pênalti cometido por Mário Tito. Era o dia 16 de dezembro daquele 1964.

Veio a finalíssima, em uma tarde de domingo, a quatro dias da noite de Natal, e Tim manteve o esquema tático, esperando sair do Maracanã com um presente para a torcia tricolor e o presidente tricolor, Nélson Vaz Moreira, que acreditara nele. O Bangu teve o ponta-direita Paulo Borges e o centroavante Bianchini adiantados, e astro Parada mais recuado. No primeiro tempo, Denílson, empolgado, abandonava a vigilância a Ocimar, para marcar, também, Parada, o que permitiu ao primeiro ficar livre e obrigar o zagueiro Procópio a se virar para dar conta de um meia. Pra piorar, Bianchini ficava livre e penetrava pela esquerda da zaga tricolor. Foi como marcou um gol, com 28 minutos.

Tim, no entanto, justificou, durante o intervalo, porque era chamado de “O Estrategista”. Corrigiu a falha de Denílson e deixou o adversário sem jogada de ataque. E o Flu virou o placar, em oito minutos – Joaquinzinho, aos 50 e Jorginho, aos 53 minutos -, para vencer, por 3 x 1, com Gílson Nunes fechando a conta, aos 22.

A campanha tricolor constou de 26 jogos, 17 vitórias, 5 empates e 4 derrotas, e o time da finalíssima alinhou: Castilho; Carlos Alberto Tores, Procópio, Valdez e Altair; Denílson e Oldair; Jorginho, Amoroso, Joaquinzinho e Gílson Nunes. O Bangu da época formava um dos times mais fortes do futebol brasileiro: Ubirajara Motta; Fidélis, Mário Tito, Paulo e Nílton Santos; Ocimar e Roberto Pinto; Paulo Borges, Bianchini, Parada e Cabralzinho”

Na imagem que ilustra esse texto, na foto central, Tim (de chapéu) observa ao treino de impulsão, também conhecido como “forca”, do zagueiro Procópio. No fundo, aguardando a sua vez, o jovem lateral-direito Carlos Alberto Torres.

Tim foi citado por 43% dos entrevistados.

FRENTE AMPLA TRICOLOR

Sobre o autor