“PROLOPA BD” – Coluna opinião por André Ferreira de Barros

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“PROLOPA BD

INTRODUÇÃO

Caros amigos, fui colhido, precocemente, pelo Mal de Parkinson. Hoje, os meus membros direitos se encontram tão enrijecidos que tive de recorrer a uma mão amiga para digitar esse apanhado de ideias.

O CRESCENTE SIGNIFICADO DA COPA LIBERTADORES

A minha índole de torcedor crispado do Fluminense F.C foi moldada no calor dos anos setenta e oitenta, em especial nos clássicos contra Vasco, Flamengo, Botafogo, América e Bangu. Nessa época, importavam, em primeiro lugar, os campeonatos estaduais e, em seguida, os certames nacionais – nos quais os confrontos com os rivais locais era incerto, quase bissexto. À Copa Libertadores da América, dispensava-se pouca, ou nenhuma, relevância.

No entanto, pouco a pouco, queiramos ou não, os pesos relativos dessas competições foram se alterando.

Quando me dei conta, estávamos em 02 de julho de 2008. A maior festa da História do futebol mundial chegava ao fim com um maracanaço. O choro compulsivo de minha filha, então com 09 anos, era como uma flecha flamejante em minh’alma.

Evidentemente, a excruciante dor da perda da Copa Libertadores, no Maracanã, não era exclusividade nossa, mas, sim, de todos os tricolores “… vivos e mortos…”, parafraseando Nelson Rodrigues.

A partir desse fatídico 02 de julho de 2008, a conquista da Copa Libertadores da América tornar-se-ia uma obsessão para nós, sentimento que nos prejudicou em 2011 e, principalmente, em 2012.

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR

E essa tormentosa obsessão pela “Glória Eterna” terminou em 04 de novembro de 2023, graças a Deus e a atuações de todos os jogadores do Fluminense F.C, aqui homenageados nas pessoas de Cano, Árias e Fábio.

Inquestionavelmente, determinantes, outrossim, foram as intervenções de um inspirado Fernando Diniz. Inesquecível foi o encurralamento do poderoso River Plate, culminando num sonoro 5 x 1. Marcante foi a decisão de começar o jogo contra o Olímpia, no Paraguai, com três atacantes. Bendito foi o vaticínio de que JK faria o gol da vitória contra o Boca. Esfuziante foi a comemoração dele, Diniz, nos braços da galera em êxtase.

A propósito, adaptando o “Poetinha”, a magia foi eterna enquanto durou. Seu nome, Diniz, está gravado em pedra na gloriosa História do Fluminense F.C.

Mantendo o norte, devido ao sistema conformador de poder, sempre atribuí ao Presidente os malogros do Fluminense – a todos, com especial intolerância aos feitos do Sr. Mário Bittencourt. Por simetria, agora, agradeço-lhe, Mário, penhorada e genuinamente, por fazer cessar as lágrimas que, durante 15 anos, escorriam, posto que invisíveis, do rosto de minha filha. Todos os tricolores lhe somos gratos, Presidente. O seu nome também está escrito na História!

RUBENS MINELLI OU CELSO ROTH

Noves fora a (previsível) goleada para o City, tudo ia bem, nas Laranjeiras, até que surgiram os cortesãos – ou, simplificando, os malditos puxa-sacos que, interessadamente, cercam os que manejam o poder. Com um deles, aliás, tive um “arranca-rabo” na véspera do 4 de novembro. Mandei o sujeito para além da Patagônia argentina, onde espero que construa seu iglu.

Um notável ajuntamento desses cortesãos era conhecido como “dinizetes”. Pespegaram no Diniz o rótulo de “… melhor treinador da História…”. “Pelo amor dos meus filhinhos…”, diria o genial Silvio Luiz, que nos deixou há pouco. É forçoso reconhecer que o peso desproporcional da conquista da Copa Libertadores cegou uma legião de tricolores. Eu acompanho o Fluminense, da arquibancada, desde 1975. Muito melhores, à beira do campo, do que o Diniz foram Didi, Mário Travaglini, Sebastião Araújo, Zagallo, Nelsinho, Cláudio Garcia, Parreira, Antônio Lopes, Abel e outros tantos, cujos nomes deixo de citar para não me estender no ponto e perder o fio da meada. Sinceramente, o Fernando Diniz é a média aritmética entre o Carbone e o Sérgio Cosme.

Raciocinando ab absurdo, como operam os cortesãos, o Celso Roth, trabalhador honesto e campeão da Libertadores em 2010, seria melhor do que o Rubens Minelli? Continuando no Internacional, o volante Edinho (ex Flu), campeão em 2006, seria superior a Paulo Roberto Falcão?

Idem quanto ao Sr. Mário Bittencourt. Dizer que ele é o “… melhor Presidente da História…”? Data venia, ele não chega aos pés de Francisco Horta, de Manuel Schwartz e de David Fischel, para citar somente três. Concedo, às marionetes e aos mariominons, que ele, Mário, é superior a Pedro Abad e a Peter Siemsen. Nada mais do que isso!

Vanity is my favorite sin”, exclamava o personagem encarnado por Al Pacino em “O Advogado do Diabo” (1997).

O HOMEM QUE QUERIA SER REI

De início, assinalo que tomo de empréstimo o título de um conto de Rudyard Kipling.

E tenho em mente o Sr. Mário Bittencourt.

Em 25 de junho de 2024, o Presidente do Fluminense concedeu uma entrevista coletiva recheada de platitudes, externando um raciocínio que liga “… nada…” a “… lugar nenhum…”.

De concreto, mesmo, só consegui extrair que: (a) o Sr. Mário Bittencourt é muito inteligente; (b) em sua meninice, o Sr. Mário Bittencourt pendurava pôsteres do Fluminense em seu quarto, sinal, para ele, de amor desinteressado pelo clube e fato abonador de tudo o que faz; (c) a primeira despedida do Fernando Diniz, em 2019, impressionou uma funcionária da ONU, tornando-se um genuíno case. Oxalá chegue à Faixa de Gaza; (d) os clubes europeus, munidos de algo próximo à inteligência artificial, têm um índice de acerto de 40% ou 50% na contratação de jogadores. Sinceramente, ante a incompletude do raciocínio – ou de minha vã compreensão -, fiquei na dúvida se o índice de acerto do Presidente do Fluminense, sem os mesmos apetrechos, é melhor ou um pouco pior do que seus congêneres endinheirados; (e) todos os repórteres fazem perguntas inteligentes, em especial as anódinas e as pouco intrusivas; (f) a culpa da multa devida ao Diniz é do Getúlio Vargas, o Presidente; (g) estamos melhores do que em 2009; (h) devemos parte do sucesso da improvável arrancada de 2009 a ele que, intimorato, assessorou o vice de futebol. No ponto, gostaria de ver a reação do Fred; (i) “interino(a)” é palavra que deve ser expurgada do vernáculo; (j) os acidentes aéreos não ocorrem por uma única causa; (k) Marcão será o técnico – efetivo, não interino – do Fluminense até o fim do ano, com Libertadores, Copa do Brasil e Brasileirão pela frente.

Aliás, quanto aos dois últimos itens arrolados – e tomando de empréstimo o raciocínio do Presidente Mário Bittencourt -, a referida escolha do Marcão – que parece ser gente boa à beça – constituir-se-á em concausa do fracasso do Fluminense. Crônica de um fracasso anunciado, desta feita emulando o insuperável escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez e seu realismo fantástico.

Por fim, durante a entrevista – ou show de horrores, como eu prefiro -, tive a ligeira impressão de que meu braço direito mexera de repente, como se eu quisesse sopapear a almofada. A ser isso verdade, o Sr. Mário Bittencourt gerou mais efeitos, sobre o Mal de Parkinson de que padeço, que o Prolopa BD. Por via das dúvidas, enviarei este texto ao meu neurologista, que é tricolor. Pode ser uma revolução científica.

Paz e bem!

Foto destaque CNN Brasil – último jogo comandado por Fernando Diniz.

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