“A buenas horas, mangas verdes”
O título desse texto, aparentemente sem essência, é um ditado espanhol. Literalmente, essa frase não faz o menor sentido, certo? Mas, calma, que eu explico: essa expressão é usada para indicar que algo chegou tarde demais para ser útil. Imagine que você está esperando por ajuda que só chega quando você já resolveu tudo sozinho ou não conseguiu solucionar o seu problema. É nesse momento que você diria: “A buenas horas, mangas verdes”.
Você deve estar se perguntando: mas por que “mangas verdes”? A origem dessa expressão remonta à Espanha medieval, onde os membros da guarda responsável pela segurança das cidades usavam uniformes com mangas verdes. O problema é que eles frequentemente chegavam tarde aos locais de conflito ou emergência. Daí a expressão, usada para indicar atraso ou inutilidade da ajuda oferecida.
Não obstante, vamos ao que interessa: o tempo… el tiempo… le temps… the time…
O tempo perdido que traz consigo o berreiro dos que hoje, em tom de manchetes revoltadas e exclusivas indignadas, abrem o alarido da insatisfação.
Ora senhores, de quem é a culpa de estarmos no meio do ano de 2024 assistindo a esse futebol barafundo que o Fluminense tem apresentado?
Será que é só do Fernando “Professor Pardal” Diniz e a sua teimosia em apostar num único estilo de jogo, que se deu certo no passado (ajudado por uma grande de sorte e incompetência adversária – vide Enner Valencia – nos levando às conquistas de 1 Carioca, 1 Libertadores e 1 Recopa), hoje não passa de uma enfadonha, maçante e nada brilhante, franquia barata do futebol apresentado no 2° semestre de 2021 e em grande parte de 2023? Ou de não ter conseguido enxergar que o futebol oferecido pela equipe tricolor já foi estudado e reestudado pelas equipes adversárias. Basta ver a estatística nos últimos 24 clássicos estaduais (desde o seu regresso em 30 de abril de 2022, foram 6 vitórias, 7 empates e 11 derrotas)? Ou de, ele Diniz, não ter observado que o Botafogo nos últimos 2 anos tem uma forma similar de jogar, com muito pulmão e contra-ataque? Todo o mundo (somos poucos, cada vez menos), com um mínimo de consciência, sabia que a equipe de General Severiano iria apostar na bola longa para o Luiz Henrique, para o Junior Santos e para o Tiquinho Soares. Conclusão: os alvinegros conquistaram a quinta vitória seguida sobre a gente, quebrando o recorde de Garrincha, Nilton Santos e Cia – menos mal que o Junior Santos para nada reencarnou o espírito do Paulinho Valentim, que na final do estadual de 1957, balançou 5 vezes as nossas redes, com direito a gol de bicicleta.
Ou será que a culpa é do auxiliar Eduardo “Lampadinha” Barros que se escora na desculpa da baixa freqüência de público ao estádio, culpando a nossa torcida pelo fraco futebol apresentado? É típico das 3 últimas gestões do Fluminense (Peter Siemsen, Pedro Abad e Mário Bittencourt) terceirizarem fracassos… Só que, transformar os nossos torcedores em vilões da incompetência alheia, beira o absurdo. A insensatez, o define – de quem em seu dia atreveu-se a questionar o Tostão (sem saber o real tamanho do futebol que, o hoje médico Eduardo Gonçalves de Andrade, com maestria desempenhava e liderava, naquele Cruzeiro de Dirceu Lopes, Piazza, Natal, Raul, Zé Carlos, Palhinha, que bateu de frente com o Santos de Pelé, sem ter medo de ser feliz) e não citar uma das mais inteligentes jogadas já produzidas por um jogador de futebol, a do próprio Tostão, que deu origem ao gol da Seleção Brasileira, na vitória contra a Inglaterra em 1970, no Mundial do México – já o despautério, o transforma em pseudo “picocelebridade” do atraso.
Todavia a culpa também pode ser do Diretor de Planejamento Esportivo, o Fred: que méritos acadêmicos tem o ex-jogador, amigo do padrinho do fabuloso Alexandre de Jesus, para ocupar tal função? Ou basta telefonar ao Douglas Costa e convencê-lo a jogar pelo Fluminense? Juro que gostaria entender: o que exige a função e o qual o preparo daquele que um dia beijou o escudo do Atlético Mineiro, dentro das Laranjeiras! De mais a mais, o ilustre Diretor poderia explicar que planejamento existe na contratação do goleiro Felipe Alves, eterno companheiro de andanças do nosso treinador. Ou a logística passa pelo grupo que empresaria o outro goleiro, o Vitor Eudes, a empresa GROUZ SOLUTIONS, por sinal a mesma que representa o Alexandre Jesus?
E o Angioni? Será que também pode ser culpado de algo? Se no final do ano passado depois da conquista do título da Libertadores, se atrevia a participar de podcast (Charla Podcast #303), calando o seu eterno silêncio, para jogar flores no seu modelo de Executivo brilhante, também tem que aparecer agora e ser responsabilizado nas dezenas de milhões de reais que foram e serão gastos nas contratações de jogadores como Antônio Carlos, Terans, Renato Augusto, Douglas Costa, Gabriel Pires, entre outros! Qual fou o critério? Atletas esses, alguns com passados de lesões e outros, com falta de comprometimento. Bastava consultar scouts e noticiários. Curiosamente, Paulo Angioni trabalhou nas 3 últimas gestões do Fluminense começando pelo ex-Presidente Peter Siemsen, sendo afastado e recontratado pelo ex-Presidente Pedro Abad e mantido no cargo pelo atual Presidente Mário Bittencourt.
Culpa por culpa, será que podemos isentar o, suposto, CEO (sigla em inglês para Chief Executive Officer, cargo equivalente a Diretor Executivo) Fernando Simone? Esse é outro cidadão, com origem na Flusócio, que encontrou no clube o seu porto seguro: trabalhou na gestão Peter Siemsen; depois de maravilhoso trabalho realizado nos clubes Boavista e Campos, foi recontratado pela gestão Pedro Abad e continua, como fiel escudeiro que é, com a atual diretoria. O curioso é que publicamente, a sua última aparição da qual tive conhecimento, foi ter saído na foto da venda do jogador Pedro à Fiorentina. Até hoje me pergunto o que ele fazia naquela reunião num restaurante da Barra da Tijuca. Aliás, se lhe encontrasse hoje, perguntaria a razão do Fluminense ter que pagar a importância de R$ 7.209.265,88 (sete milhões, duzentos e nove mil, duzentos e sessenta e cinco reais, e oitenta e oito centavos) ao jogador Willian Bigode. Que dívida é essa? Ficou mais barato em rescindir, do que pagar metade do salário que restava – diziam os periódicos da época. Será que o brilhante CEO, reuniu-se com o Diretor Executivo de Futebol, Paulo Angioni, cobrando-lhe explicações: a) Por que o atleta foi contratado?; b) E sabedor de que era um jogador na descendente (dispensado pelo Palmeiras), qual foi a razão do alto salário pago ao mesmo?.
Mas a vida segue e nessa crise (tomara que passageira) que vive o futebol do Fluminense, pergunto-me até que ponto a responsabilidade também passa pela configuração do cargo de Vice-Presidente Geral, ocupado pelo jovem e brilhante Advogado Mattheus Montenegro? Temos amigos (2) em comum – a um deles considero irmão. Ambos me falam das excelências dele como pessoa e como profissional. Sou daqueles, quer dizer, a escola que vi e vivenciei durante os 46 anos de militância de movimentos de arquibancada e de vida política no clube (comecei em T.O. em 1977 e no início de 1978 fiz campanha para o José Carlos Vilela à presidência e sucessão do ex-Presidente Francisco Horta), ensinou-me que na maioria das vezes quando a tensão chega aos gramados, nem sempre é de responsabilidade exclusiva do Departamento de Futebol. Então antes de nada, gostaria de entender como o amigo dos meus amigos, analisa um Demonstrativo Financeiro, o de 2023, com tantas interrogações e incongruências, além de ressalva da empresa que o auditou? Como legalista que sou, também me interessaria perguntar-lhe a razão do Estatuto do F.F.C. ser constantemente jogado no lixo, principalmente por um Conselho Fiscal inepto e inoperante, e por um Conselho Deliberativo serviçal e homologativo. Será que o nobre Vice-Presidente Geral aceita que a Reforma Estatutária e a discussão sobre a transformação ou não em SAF, não seja democrática e seja resolução de umas poucas pessoas, entre ela grupos ligados a ex-jogadores de futebol?
Ou será que finalmente a responsabilidade do que está acontecendo passa por quem ocupa o cargo que preside a Instituição, aquele a quem muitos dos mais jovens torcedores e dos Influencers analfabetos da verdadeira história do clube, cognominam “maior presidente de todos os tempos”, o Presidente Mário Bittencourt? A resposta é clara e objetiva. Mais de uma vez pronunciada pelo própria oposição à gestão Peter Siemsen (que ele, Mário, liderava), em 2016, quando perguntada por algumas ações que ocorreram no clube entre 2014 e 2016: “a responsabilidade é de quem tem a caneta!”. Sendo assim e reconhecendo o quão hodierna se mantém a frase, faço uma pequena retificação: “a responsabilidade, também, é de quem tem a caneta!”. Dito isso, que “siga La pelota”.
E os jogadores, será que são os grandes responsáveis do que o futebol (mau) tricolor vive no presente? Porque se friamente nos aferramos às fotos da imagem que ilustra essas palavras que até agora escrevi, deduzimos que a bola cruzada sobre a nossa área, não mereceu por parte de NENHUM dos nossos atletas (estavam os 10 jogadores de campo praticamente dentro da pequena área) qualquer tipo de ação que não fosse “fazer a estátua” sem sair um centímetro sequer do chão para atacar a bola até a mesma encontrar o atleta botafoguense com mais de meio corpo acima da, suposta, linha de defesa do Fluminense. Essa falta de atitude e ausência de concentração obrigam-me a perguntar se a culpabilidade é somente do treinador ou estamos diante de um time que vive de um passado que (infelizmente) não existe mais? Ou será que os jogadores já não entendem as alocuções do Fernando Diniz? Ou será que a jogada ensaiada passava pela inércia dos nossos 10 jogadores de campo? Ou será que o combinado era o Marlon fazer uma barreira para o Martinelli não atacar o atleta adversário? Ora senhores, já passou da hora de que se cobre aos jogadores também. É nítido que o cristal rachou e tem gente noutra vibe, sonhando talvez em vestir outras camisas, em terras européias. Isso sem contar que, depois de 2 anos, as lesões chegaram de forma galopante. Ou será que, lastimosamente a idade chegou, passado mais um ano, para certos atletas de larga duração e rodagem? Além de que para alguns outros, a batida da noite é mais do que real, seja numa suíte de um motel, seja num baile qualquer na Glória.
Culpar a péssima pré-temporada, no dia 14 de junho, é tão ridículo quanto às atuações desempenhadas em 2024. Depois dessa primeira, já tivemos 20 dias de intervalo a partir da eliminação precoce no Carioca e outros tantos dias pela paralisação do Campeonato Brasileiro, em virtude da tragédia no Rio Grande do Sul.
Sabe o que dói?
Que em no final de fevereiro, no início de março, pessoas (pouquíssimas – entre elas eu) alertaram pelo que poderia passar no restante do ano. Fomos duramente criticados. No meu caso: “você torce contra”, “profetas do apocalipse” (essa vinda de quem se dizia oposição), “você não é tricolor”. Quantas e quantas vezes a Frente Ampla Tricolor foi atacada nas suas LIVES por comentários jocosos, que diziam que nós éramos uns indesejáveis que só queríamos fazer política. Ninguém percebia, que o nosso amor ao Fluminense é praticado com a emoção e a razão. Vida que segue!
E o que quis dizer até agora? Que a resultante é escrita por vários fatores, onde todos ou quase todos os citados colocaram os seus grãos de areia movediça. Ao término da 8ª rodada o Fluminense se encontra com 6 pontos, na 16ª posição. Sinceramente ainda não me apavoro em pensar em rebaixamento, mas temos que brigar muito por dias melhores. Hoje, a nossa corrida será disputada palmo a palmo contra o Corinthians, o Vasco, o Juventude. Não podemos baixar a guarda para o Atlético-GO, o Criciúma (com 2 jogos a menos) e o Cuiabá. Isso sem falar nas guerras que virão na Libertadores e na Copa do Brasil.
Mas e o Thiago Silva? O ilustre TS3 deverá estrear lá pela 16ª ou 17ª rodada, então já teremos disputado, no mínimo, mais 24 pontos. Tomara que a solução, que o reequilíbrio também passe por ele. Mas será que podemos comparar o que temos de concreto com o Chelsea? Qual era a média de idade da equipe sediada em Londres?
Meus queridos, o momento exige severa reflexão e acima de tudo, postura e determinação.
E quanto aos culpados, não posso ser injusto. Que tal falarmos de uma parte que é grande culpada?
Vocês lembram do “a buenas horas, mangas verdes”, lá no início desse texto?
Para a surpresa de ZERO pessoas, a maioria dos Influencers de grande audiência e de alguns donos de sites que durante fevereiro, março, abril, maio e parte de junho, passaram pano para a gestão, venderam ilusões com objetivo de hipnotizar seus milhares de seguidores, na incessante busca pelos “likes” de turno, criaram mantras de apoio a tudo o que foi feito e principalmente apostaram no eternizar o “maior presidente de todos os tempos”, depois da derrota para o Botafogo, resolveram se vestir com a outra face da moeda. Credibilidade? Nenhuma. São os mesmo que fizeram chacotas das poucas mentes iluminadas, que desde sempre alertavam para os problemas que estavam surgindo. Por parte deles nunca existiu compromisso com a verdade absoluta e sim com o próprio bem estar. Bem estar esse que hoje os exige um discurso duro contra o Diniz. Com direito a gritos e olhos marejados no “Fora Diniz”! Como se o problema se resumisse ao Fernando Diniz!!!
Realmente, “a buenas horas, mangas verdes”!
Antonio Gonzalez é membro do Núcleo Político da Frente Ampla Tricolor