Colegas, apesar do marketing, a Champions League não me apetece. Nem sei quando tem jogo válido pela Liga. Mas o torneio virou uma coqueluche nacional, é forçoso reconhecer. The Champions League is the new black. A garotada, então, é aficionada pelos jogos, nos quais desfilam os melhores jogadores do mundo. Minha filha de 20 anos não é exceção. Há poucos dias, na Espanha, jogavam Real Madri e Bayern de Munique. Entrei no quarto dela para perguntar-lhe alguma coisa e, simplesmente, fiquei vidrado na televisão. Não se tratava dum arranque de CR7, nem de gol do Müller. Fiquei extático com a torcida organizada do time espanhol, que ficava atrás do gol à esquerda das câmeras de televisão. Todos vestindo camisas brancas. Como a Young Flu dos anos 80 – a grande, inesquecível, invejada e incomparável Young Flu.
Fui ao Maracanã pela primeira vez na final da Taça GB 75. Contava, então, 7 anos de idade. Meu saudoso pai temia me levar na arquibancada e, por isso, assisti àquele jogão das velhas cadeiras azuis.
Em 1976, na finalíssima com o Vasco, enchera tanto o saco que o Velho, enfim, me levou para a arquibancada, de onde nunca mais saí. Fiquei próximo à Torcida Organizada Jovem Flu, do grande Sérgio Ayub. Foi paixão à primeira vista: talco, bateria, bandeiras, tudo temperado com um título importante sobre um então freguês. Em decorrência do título conquistado em cima da hora, eu me tornei uma espécie de pé de coelho da Jovem Flu. Já em 1977, ficava no meio da galera, bem afastado do meu pai. Aliás, o pessoal já conhecia o Velho, guardando, até, segredo do gravíssimo defeito dele – meu grande pai era flamenguista. Ninguém é perfeito! Logo, comprei a camisa vinho lindíssima com os dizeres “Fluminense” às costas. Para quem não viveu na época, as camisas dos Torcidas Organizadas eram vendidas nas rampas de acesso às arquibancadas. Na Jovem Flu, comemorei, ao embalo de “À benção João de Deus”, a Taça GB e o campeonato estadual de 1980, sofri com 3 x1 do urubu em 1981 (numa das mais belas festas tendo o Maracanã por palco), chorei a eliminação para o Grêmio no Brasileiro de 1982 e assisti ao início do timaço que faria tremer os rivais. Orgulhoso, eu batia no peito e dizia: “Sou da Jovem Flu!”.
Segundo semestre de 1983, Cláudio “Traidor” Garcia fazia um ótimo trabalho à frente de um time de desconhecidos. A torcida tricolor estava bastante empolgada. Qualquer joguinho era casa cheia. “Plunct, plact, zuum… o Fluminense vai f… mais um”. Num sábado à tarde, jogariam, no Maracanã, Fluminense x Goytacaz pela Taça Guanabara. Eu cursava o segundo ano do segundo grau no Colégio Salesianos Santa Rosa em Niterói. Na quinta ou sexta feira que antecedia o jogo, eu e meus amigos tricolores de fé – Manoel, Jarrão, Paulo e Melão – começamos a fazer os planos para o fim de semana. Conversa vai, conversa vem, Melão fez, então, uma proposta: “Vamos no ônibus da Young?” Os demais colegas se calaram, mas eu me opus com veemência. Afinal, com todo o respeito às demais TO, eu era da Jovem Flu, camisa vinho. Naquele dia, passou-me despercebido que a discussão começara, mas não chegara ao fim. No dia do jogo, entramos no “Vila Isabel” e rumamos para o Maraca. Mas algo estava diferente no quinteto: uma cantoria danada no ônibus e meus quatro colegas – sempre tão empolgados – estavam calados, quase amuados. Pergunta daqui, pergunta dali, mexe daqui, mexe dali, e a questão veio à tona: “Vamos pra Young?” Ao que, imediatamente, respondi: “Gente, isso nunca esteve em pauta. Discutimos se iríamos no ônibus da Young, mas jamais se ficaríamos na Young”. A discussão foi tomando corpo. A “temperatura” subiu. Deu-se o impasse. Embora vivêssemos ainda sob um regime ditatorial, resolvemos a bulha pelo democrático instrumento do voto igualitário. Resultado indiscutível: 4 x 1, a favor de irmos para a Young Flu. Mascando o fel dos derrotados, fui pra Young Flu. Lá chegando, a minha contrariedade durou, se tanto, uns 30 segundos. Meu Deus do Céu, o que era aquilo? Todo mundo de pé, gritando, pulando, batendo palmas, tudo com uma incrível sintonia. Uma energia indizivelmente contagiante. Após meia hora de empolgação total, eis que, na altura do placar central, começaram a entrar as bandeiras do Fluzão. Todas as organizadas juntas: “Influente”, “Garra”, “Jovem Flu”, “Força-Flu” e, por fim, a “Young Flu”. Foi uma ovação ao som de “Sorria pra chuchu”. Lembro-me como se fosse hoje. Sentindo que o vento virara a seu favor, Melão, oportunista como o Assis, me perguntou: “O que você está achando?” Apenas sorri. Um sorriso que valia por dez mil palavras. Com todo o respeito, a inesquecível, marcante e vibrante Jovem Flu fazia parte do passado. Eu estava diante de nova – e arrebatadora – paixão. E, consequentemente, passaria a usar a camisa branca.
Na rodada seguinte, enfrentaríamos o Botafogo. Sem qualquer polêmica, pela primeira vez, fomos ao Maracanã no ônibus da Young Flu – Niterói. Eram três ônibus “Volvo” da antiga CTC que partiram, lotados, da pracinha em frente à Rua Comendador Queiróz, na Praia de Icaraí. Noves fora os ovos arremessados no Bob’s, foi tudo perfeito.
Incontáveis foram as vezes em que fui pro Maracanã nos ônibus da Young Flu – Niterói. Era uma festa, aguardada a semana inteira, que começava às 14:30 – quando entrávamos nos ônibus – até às 20:30, quando chegávamos de volta do estádio. Lembro-me de Pitanga, de Magoo, de Cachorro, de Woody Allen, de Sandoval, de Vampiro, de Maguila, de Pedro, de Kléber, de Camarão, de Tim Maia e de muitos outros. Todos vestidos de branco… e levando esporro do Seu Armando.
No meio da Young Flu, assisti, pela ordem, ao gol de Assis em 1983 (ao lado do Tião Macalé), ao gol de Romerito em 1984, ao gol de Assis, também em 1984, ao gol do Paulinho em 1985, enfim, a todos os momentos marcantes do Fluzão daquela saudosa época. Foram os meus melhores anos como torcedor apaixonado.
Tá bom, eu sei que sou suspeito para falar, mas vou falar assim mesmo: não tinha pra ninguém!! Comparecíamos em massa aos clássicos. Nas arquibancadas, a torcida do Flu era a mais bonita e a mais vibrante – encabeçada, sem quebra do apreço pelas demais organizadas, pela inesquecível Young Flu, com todos os seus empolgadíssimos membros, todos vestidos de camisa branca.
Realmente, a organizada do Real Madri lembra a Young Flu – palidamente, mas lembra.
Ah, Flusócio, naqueles tempos, vocês não durariam 1 mês à frente do Fluzão.
Saudações tricolores!
André Ferreira de Barros tem 50 anos, acompanha o Fluminense em estádios desde a final da Taça Guanabara de 1975 e acha que a Flusócio tem que deixar o Tricolor e tentar a sorte no Boavista, para o infortúnio do simpático clube da Região dos Lagos.